
Como as escolas tradicionais matam a curiosidade (e o prazer de aprender)
Descubra como o modelo tradicional de ensino silencia a curiosidade das crianças e o que podemos fazer para reacender o prazer de aprender.
Aline Oliveira
6/2/20252 min ler


Por que, com o tempo, as crianças deixam de fazer perguntas?
Imagine a cena: uma professora se prepara para ensinar sobre o clima. Lá fora, o céu se rasga em relâmpagos e trovões. As crianças, empolgadas, apontam para a janela, fazem perguntas, tentam entender. Mas logo são silenciadas: “Agora não. Vamos focar na aula.”
Parece familiar?
Esse tipo de situação não é exceção. A escola tradicional, com seus currículos engessados, provas padronizadas e metas de desempenho, tem sistematicamente ensinado às crianças uma lição silenciosa, porém poderosa: curiosidade atrapalha. E assim, pouco a pouco, o prazer de aprender vai se apagando.
Curiosos aprendem mais
Estudos recentes, como o da Universidade de Michigan CS Mott Children’s Hospital and the Center for Human Growth and Development, revelam que crianças mais curiosas aprendem melhor. A curiosidade, especialmente em crianças de contextos socioeconômicos desfavorecidos, está fortemente ligada ao sucesso escolar.
Ao contrário do que muitos pensam, a capacidade de prestar atenção ou seguir regras não é o melhor indicador de desempenho futuro. Perguntar, explorar, questionar — isso sim é aprender de verdade. Só que, em vez de incentivar essas atitudes, muitas escolas continuam a priorizar o silêncio e a obediência em nome de resultados.
O impacto do silêncio imposto às perguntas
Quando a pergunta da criança é ignorada, ela aprende que não vale a pena questionar. O medo de errar substitui o desejo de explorar. Em vez de entender profundamente, elas se contentam em repetir o que é esperado.
De 107 perguntas por hora para o silêncio absoluto
Pesquisas mostram que crianças entre 1 e 5 anos chegam a fazer 107 perguntas por hora. Isso mesmo: mais de uma pergunta por minuto. Elas querem entender tudo, desde o funcionamento do universo até por que os adultos fazem o que fazem.
Mas, ao entrar na escola, esse ritmo despenca. Estudantes mais velhos muitas vezes passam horas sem perguntar absolutamente nada. Em vez de explorar o mundo, estão ocupados tentando decorar respostas.
Por que isso acontece?
Porque o sistema cobra produtividade, não pensamento.
Porque professores estão sobrecarregados com metas, provas, currículos e avaliações externas.
Porque há mais preocupação com o “comportamento” do que com a mente pulsante por trás de cada aluno.
Porque “aprender” virou sinônimo de repetir conteúdos, não de criar perguntas.
E assim, sem perceber, a escola tradicional transforma crianças naturalmente criativas em adolescentes ansiosos por acertar — e não por entender.
O que algumas escolas estão fazendo para reacender a chama da criatividade
Algumas iniciativas, como a de uma escola infantil em Bristol, cidade localizada no sudoeste da Inglaterra, tiraram brinquedos tradicionais das salas e os substituíram por objetos comuns: panelas, canos, caixas. O resultado? Mais interação, mais invenção, mais conversas. As crianças voltaram a criar.
Como pais e educadores podem reverter esse quadro
É possível cultivar a curiosidade em casa e na sala de aula:
Dê espaço para perguntas (mesmo as difíceis).
Valorize o processo, não apenas o resultado.
Deixe o erro ser parte do aprendizado.
Incentive projetos que partam do interesse da criança.
Educar não é calar. É alimentar a chama da curiosidade.
O papel da escola não deve ser o de ensinar respostas decoradas, mas o de cultivar mentes que se atrevem a perguntar. Se queremos formar adultos criativos, críticos e conscientes, precisamos, antes de tudo, permitir que as crianças continuem a fazer perguntas. Muitas delas. Todos os dias.